mania

ah! essa mania...
teimo em rimar
fazer do amor
um imenso mar
da dor, o motor
de meu caminhar

meu verso...

meu verso simples
jogo por aí, fecundo
para bater e apanhar
vai pra boca do mundo
ser devorado, escarrado
criticado e espancado
sofrer safanões da vida
sim, para aprender
e mesmo que perder
continuarei a dizê-lo
sua função é conviver

voar...

voar, voar
tocar o céu
teus olhos
a me olhar

Carne

carne caliente
calo, entalo
em cores quentes
de Frida Kahlo

beija...

beija-flor no
concreto de
sua beleza
rio-mar
avião
sou todo
espanto!

segunda-feira

reza grita benze
passe
vida santeira
e é só
segunda-feira

ser...

ser a vida inteira
como o poeta Manoel
apanhador de água com peneira

meus olhos...

meus olhos
rios de pedra
desabrocho morte
em plena vida

invejo o capim
que rompe o asfalto

telejornal

cisco no olho:
beleza no telejornal
quando tudo vai mal

o cisco aumenta
na realidade abissal
tudo fica sobrenatural

bilboquê

menina levada
quero o teu querer
tu me faz de iô-iô
quero ser bilboquê

liberdade

liberdade liberdade
menino a correr sem destino
todo dia
ser anti-herói de mim mesmo