o seco...

o seco na água
inunda meus olhos
nublados de mim

ranger de pneu...

ranger de pneu
grito no alto-falante
meu coração distante

unidade na diversidade

tríplice fronteira
Brasil, Bolívia, Peru
tantas diferenças
no vestir, em ser
unidade na dor
ambos
o mesmo opressor

carência

nem mesmo o açaí
a castanha e o cupuaçu
suprem a carência de tu

negócio

nosso negócio
de todo dia
lutar pelo ócio

egocêntrica

meu patrimônio é parco:
uma cama para esticar o corpo
uma rede pra balançar
muito ar pra respirar
um ar-condicionado
(se não faltar eletricidade)
pra não morrer de calor
e refrescar o meu amor

o maior patrimônio
uma consciência
(de classe) tranquila
pra seguir na resistência

por aí

fazer o dia diferente:
a roda é só de girar
ou pode iluminar?
no menu, o prato do dia
é também poesia
comer quente
ainda que fria

amolar facas
afiar a palavra
acertar o alvo
colher a safra

escuta

vem lá de fora
o aviso pelo ar:
é preciso caminhar

como se tudo em volta
estivesse a sussurrar:
o mundo tem que mudar

o sol...

o sol penetrou a terra
não ouvi o gemido
mas senti o arrepio