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domingo, dezembro 25, 2016

moinho

moinho, favela
ela, moída no torvelinho
de um tempo-mazela
passarela da especulação
levanta do ninho
a mãe e seu menino
vidas devoradas sem carinho
por essa situação
da vida-mercadoria
de um tempo sem salvação

2013

sábado, dezembro 24, 2016

teu nome

destruidor de matas virgens
inventor de máquinas
que moem dedos
com afiadas lâminas

criador de trens, trilhos
carros, barcos, avião
armas, bomba atômica
e toda destruição

teu nome é tudo isso
e todo o reverso
aponta e erra a direção
teu nome é progresso

23/11/13

sexta-feira, dezembro 23, 2016

quinta-feira, dezembro 22, 2016

econômico

meu jogo econômico é outro
o pib medido em solidariedade
moeda sólida
sem flutuação
investimento certo
que me faz crescer
a competitividade é por mais amor
garantindo a sustentabilidade
de nossa humanidade

quarta-feira, dezembro 21, 2016

macunaímico

sempre tive vocação pra vagabundo
prefiro o não fazer
a alimentar sistema nauseabundo

sou macunaíma,
sou carlitos e seu garoto
até que acabemos
com o que nos deixa roto

terça-feira, dezembro 20, 2016

partida

saiu do sertão
sua terra, seu chão
desde criança
o cabo da enxada
queria melhorar
(o quê?)
firmou-se:
- vambora!

cidade grande
acorda três e meia
pra pegar às sete
seu filho ao lado
o amargo café
gosto de vida
de vida fudida

saiu do sertão
pra cair na construção

segunda-feira, dezembro 19, 2016

como dormir

como dormir
se lá fora tudo é estreito?
como dormir
se lá fora nada parece ter jeito?
como dormir
se lá fora o amor foi desfeito?
como dormir
se há tanta gente sem leito?
como dormir
se quem rouba se torna prefeito?
como dormir
se lutar se tornou um defeito?
como dormir
com essa dor em meu peito?

29/10/13

quinta-feira, dezembro 15, 2016

ouro negro

a sessenta anos
o povo marchava
hoje, apenas propaganda
naquele tempo se reivindicava
e ainda hoje:
o petróleo é nosso!

não queremos que vá para o estrangeiro
e sim que seja do povo brasileiro

nosso grito continua a ecoar
e continuará
até a situação mudar.
mas, ouro negro,
continuam a te entregar.

23/10/13

domingo, novembro 20, 2016

O

         N  N  N
     E  E  E  E
     G G  G  G
O  O O  O  Ó  Ó
              C  C  C  C
               I   I   I    I
              O  O O  O  Ó

quinta-feira, agosto 04, 2016

selva

Existe uma cidade no meio da floresta amazônica onde surgiu uma espécie interessante: os caçadores de sombra. Há quem diga que muitos deles são os mesmos que costumam cortar árvores e atear fogo. Pesquisadores estão investigando o fenômeno e as conclusões iniciais apontam que, para além dessa espécie que prolifera a cada dia, existem duas outras em extinção: bons urbanistas e bons governantes.

quarta-feira, julho 27, 2016

Mini conto

Acordou. Leu as notícias. O mundo continuava o mesmo: guerras, fome e outras tantas absurdidades criadas pela humanidade. "Humanidade?, pensou." Não tomou café. Ele, um privilegiado que podia desfrutar de três refeições ao dia, não tomou café. Saiu para voar. Alçou voo do vigésimo quinto andar. De cima podia apreender o mundo melhor e a vida ficava menos triste.

sábado, julho 23, 2016

Viagem

eu, de pé no metrô
uma moça próxima...
compenetrada
no que pensa?
qual sua história?
histórias desconhecidas
eu e ela no mesmo espaço
vagão à frente e detrás
e outras tantas histórias
completamente desconhecidas
mas na mesma viagem

quinta-feira, abril 21, 2016

é tempo...

é tempo de estudar
é tempo de encontrar
é tempo de olhar nos olhos
é tempo de ir ás ruas
e de lá sair
só quando a realidade
se transmutar em festa

sábado, abril 16, 2016

Pela democracia

        Eu agora vou dizer
        Preste muita atenção
        Em nosso imenso Brasil
        Sempre teve enrrolação
        E nossa gente simples
        Nunca teve voz e vez, não

        Por isso qualquer avanço
        Seja pra mim ou você 
        A nossa elite perversa
        Sempre quer retroceder 
        Mas, contra tudo isso
        Vamos lutar até vencer 

        É preciso muita luta
        Pra mudança acontecer
        Amigo, preste atenção
        Pra você não esquecer
        Sendo homem ou mulher
        Vamos lutar até vencer

        Tem deputado ladrão
        Querendo aparecer
        Fingindo ser gente honesta
        Botando tudo a perder
        Mesmo pequenas conquistas
        Podem desaparecer
  
        Por isso vamos pra rua
        Lutar contra a covardia
        Escangalhar a farsa
        Mostrar que somos maioria
        Todos nós em um só grito
        Lutando por democracia

        Nossa gente na rua
        É forte, faz acontecer
        Vai enfrentar o golpe
        Pra democracia vencer
        Vai enfrentar o golpe
         Pra democracia vencer

terça-feira, março 01, 2016

levante-se...

levante-se contra
o trabalho escravo
a mão que sustenta
o duro chicote
(a mão é invisível?)
bate pra valer
sem dó nem pena
espreme até moer
é preciso agir
gritar, reagir
pra deixar de acontecer

domingo, fevereiro 14, 2016

1917

a cinza das horas
os sovietes mostram o novo
(depois tornado velho)
greve geral no Brasil
saudade
saudade do que não vivi

quarta-feira, janeiro 27, 2016

o menino

procuro aquele menino
que atravessava o rio seco
quando havia água no rio
via a mãe lavar roupas à beira
hoje, areias na memória
a imagem no espelho
cacos de um destino
vida que erra
que quer o erro
como subir em mangueiras alheias
pular de árvores em águas escuras
descobrir outros mundos
para não cair nessa realidade
de grãos que desintegram

terça-feira, janeiro 26, 2016

divisar meu eu

estou desideologizado
(ou renascido)
algo assim, meio pós-pós
o que muda é a alegria
não quero interpretar o mundo
o mundo que me interprete
mudá-lo? loucura!
bebi, cheirei do velho e do novo ismo
estou em estado de ideologia pura!

sábado, janeiro 23, 2016

A estranha


Toca a campainha, Ele abre.
ELA (com uma mala; beijando-lhe a face) – Oi, tudo bem? Bom, cheguei (entra)
ELE – Acho que errou de casa.
ELA – Não, é aqui mesmo.
ELE – Eu a conheço de onde?
ELA – Não me conhece, mas isso é um detalhe. Tempo meu querido, o tempo nos fará bem...
ELE – Tempo?
ELA – Você tem dois quartos?
ELE – Não.
ELA – Cama de casal?
ELE – Sim.
ELA – Hum!
ELE (para o público) – Foi assim que ela chegou e foi ficando...
ELA (para o público) – O tempo foi passando... ele foi se acostumando a ela.
Os dois sentam no sofá.
ELA – Vamos ao cinema hoje?
ELE – Quanto tempo está aqui?
ELA – Não sei, faz diferença?
ELE (para o público) – Nunca nos tocamos, sabe?...
ELA (para o público) – Tocar... imagino seu corpo...
ELA – Vamos ou não?
ELE – Sim, vamos. (Para si) Acho que sempre faço o que ela quer...
ELA – O que vamos ver?
ELE – Um filme de aventura ou comédia romântica.
ELA – Não, vamos ver Almodóvar. Vamos?

ELE – Vamos. (Ela sai.) Depois do cinema ela voltou em completo silêncio. Tentei puxar conversas e o máximo que conseguia era um resmungo. Ela já estava comigo a dois anos. Depois daquele dia, ela se foi. A casa ficou mais vazia... não sei de onde era... às vezes, no sofá, encostávamos os braços... sua pele era tão macia... não sei se conseguirei viver nessa casa sem ela! 
Blackout.