sim, sejamos assassinos:
matemos essa saudade
que há entre eu e você.
Publicação de contos, crônicas, poesias e artigos escritos por Adailtom Alves Teixeira (em artes Adailtom Alves). Outras redes: https://linktr.ee/adailtom.alves
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terça-feira, dezembro 18, 2018
quarta-feira, novembro 14, 2018
faz verão...
faz verão em meu peito
quero sorrir colibris
florir em abraços
desaguar palavras certas
como meta, tecer afetos
embora haja tanto preconceito
faz verão em meu peito
ver a ti em translúcidas cores
verter o mel de teus olhos
para nos vermos
quero sorrir colibris
florir em abraços
desaguar palavras certas
como meta, tecer afetos
embora haja tanto preconceito
faz verão em meu peito
ver a ti em translúcidas cores
verter o mel de teus olhos
para nos vermos
e sermos, igualmente
como metades
que se complementam
sábado, setembro 29, 2018
o menino
minha infância é rio seco
a fome à espreita
irmãos natimortos
o sol rachando o coco
havia também esperança
brincadeiras na rua
mangas madura no pé
hoje, linda lembrança
a casa de taipas
a roça, a enxada
espantar passarinhos
a imposição da fé
o silêncio do pai
as surras da mãe
o pouco pra tantos
um amor que fere
o menino sonha
acordado, sonha
tanto, que alcança
seu sonho de criança
a fome à espreita
irmãos natimortos
o sol rachando o coco
havia também esperança
brincadeiras na rua
mangas madura no pé
hoje, linda lembrança
a casa de taipas
a roça, a enxada
espantar passarinhos
a imposição da fé
o silêncio do pai
as surras da mãe
o pouco pra tantos
um amor que fere
o menino sonha
acordado, sonha
tanto, que alcança
seu sonho de criança
domingo, junho 24, 2018
Um país autoritário que não acertou as contas com sua história
Adailtom Alves Teixeira
Há uma
pequena história que ouvia em minha adolescência sobre violência famíliar: O
pai, ofendido pelo patrão, chegava em casa e gritava ou batia na esposa; a
esposa batia no filho; a criança, por sua vez, descontava no elo mais fraco, o
cachorro. Assim, ao invés do mais forte cuidar do mais fraco, como deveria ser
uma sociedade civilizada, todos vão reproduzindo a violência para o andar de
baixo. Uma demonstração de que somos autoritários e violentos.
Quem está no
andar de baixo? Muitos, é possível mesmo afirmar que a maioria, quando somamos
mulheres, negros e todas as minorias que quando somadas são a esmagadora
maioria dos brasileiros. Os índices de violências contra jovens negros são
altíssimos, contra as mulheres e a comunidade LGBT, também. Claro que a
violência é reproduzido intra-classe, intra-grupos, afinal a ideologia
dominante perpasso a todos sem distinção.
Machado de
Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas,
mostra seu personagem principal na infância fazendo de seu negrinho uma
besta, no qual monta e chicoteia. Anos mais tarde, após a liberdade concedida,
é o negro Prudêncio que, ao adquirir um escravo lhe chicoteia, montado em suas
costas. A cena é presenciada por Brás Cubas e este pede-lhe que perdoe o negro,
ao que Prudêncio prontamente atende. A cena é um retrato da reprodução da
violência, ao mesmo tempo em que demonstra que Prudêncio, mesmo liberto, não é
tão livre quanto pensa, já que obedece ao que seu antigo dono “lhe pede”.
Típico de nosso autoritarismo: mesmo o violento, sabe que a violência do de
cima pode ser pior.
A clareza de
que não acertamos as contas com a escravidão, além das mortes diárias nas
periferias do Brasil, está presente na música Haiti, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, sobretudo nos versos abaixo:
(...) a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
(CAETANO, GIL).
A música
deixa claro a hierarquização e a violência herdada da escravidão, mais de um
século depois, não conseguimos resolver esse problema. Mas a clareza maior está
em nosso cotidiano com as diversas violências, continuamos a padecer e, muitas
vezes, a naturalizar a quantidade de absurdos.
Exemplos?
São muitos. Quando o comandante do exército, em fevereiro desse ano, general
Eduardo Villas Bôas, pediu a “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova
Comissão da Verdade”. Assim estaria livre para sobrepor-se à lei? O que
melhorou para os moradores dos morros cariocas? Cem dias após a morte de
Marielle Franco e Anderson Gomes, onde estão os responsáveis, punidos? E o
menino Marcos Vinícius, baleado no Complexo da Maré e que ainda parecia acreditar
em uma mudança por meio da escola, perguntava a sua mãe: “Ele não viu que
estava com roupa de escola?” Não, Vinicius. Pois o lugar que habitava é o lugar
dos de baixo, no qual não se pede licença e as leis parece não existir; o lugar
dos de baixo, é onde a barbárie permanece diariamente.
Quando
iremos acertar as contas com nossa história e fazer de nosso país um lugar
civilizado?
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