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sábado, março 11, 2006

O Enterro da Barata

Ói, esse causo que eu vou contá pro cês, eu num sei bem de onde é izatamente, quem me contou sabia o nome do sujeito e inté seu endereço, mai e eu só sei que acunteceu lá pras banda da Bahia, é sim sinhô.
Assucedeu o seguinte: Um hôme qui eu num sei o nome e morava pra`quelas bandas gostava muito de inseto, num sabe! E tinha um grande sonho:
-- Hôme eu crio de tudo, mas eu ainda vou ter uma barata gigante! – dizia ele.
Pois é, ele gostava de tudo qui era inseto e criava os monte dele. Pois o hôme num criô mermo uma barata gigante!
Rapaz, diz qu`é o seguinte: q`ele pegou uma barata novinha, piquininha, sabe? Bem miudinha mermo. A bichinha, lá, mirradinha. E ele dizia:
-- Você vai ser minha barata gigante.
E o hôme dava de tudo pr`essa barata cumê. E a bicha foi crescendo, foi crescendo e quando ele deu fé, a bicha tava enorme gigantona. Olhe, pra você me aquerditar, qui num é mintira – qui eu num sou pescador! –, a barata midia sete parmo de tamanho, por três de largura e pesava mais o meno uns cinquenta quilo. A bicha era grande mermo!
E o hôme mei doido da cabeça, só pudia sê doido, né? Pois ele vivia cum aquela barata pra riba e pra baixo, come se fosse a companheira dele. Era uma coisa absurda! Isso se deu lá pras banda ali do véio Chico, num sabe! É!
E todo mundo mangava dele. Mas ele num tava nem aí. O povo dizia:
-- Hôme deixe disso, largue essa barata pra lá João...
Tái, lembrei o nome dele: era João. Inté o final eu lembro é de tudo. Arre! qui minha cabeça já num anda muito boa, não, sô! Vocês num arrepare não.
Bom, cuma eu dizia, o hôme, o João, num sabe, era naquela doidera toda, pra riba e pra baixo cum aquela barata véia nojenta. Daí qui um dia assucedeu o pior, uma disgraça pra ele e filicidade pros vizin dele. Sabe o qui acunteceu? Sabe não, é? A barata morreu! É meu amigo, a barata morreu! O hôme se disisperou de uma tal manera que paricia qui tinha murrido arguém da famia. Bom, e pr`ele tinha mermo, né!? Porque, a tá da barata, era da famia dele.
E corre pra cá e corre prá lá, toca a ajeitá o interro da barata – onde já se viu, interro de barata! Pois o hôme quis interrar a bicha como se enterra gente.
E vai no macineiro, e tira as midida da barata, e toca ver terreno no cimitério... Aí é que a porca torceu o rabo! O bicho pego! E o bicho nesse caso num é a barata, não, é o causo todo mermo, né?!
Todo mundo abismado:
-- onde já se viu, interrar barata onde se interra gente?!
Num pode, né? Mas num pode mermo! Arre! Qui foi uma confusão dos diabo! Rapaz, cê num mi acredita, o hôme ainda fez pior. Além de toda aquela confusão, ele arrumou outra: além de querer interrar a barata no cimiterio ele teve a cara de pau, arrepare, de pidir pro pade dizer umas palavrinhas no interro da bicha.
Mas olhe, diz qui o padre ficou numa raiva qui paricia qui tava cum capeta no corpo. O padre ficou fulo! Quase derrubou a igreja! O padre ficou doido cum aquela cunversa!... Mas também, onde já se viu, pidir pra padre falar o latinório em interro de barata! Num pode não, num é?!
Pois bem! O padre ispulsô esse tal de João e ainda falou qui num ia deixar ele interrar a bicha lá no cimitério, não. “Que onde já se viu uma coisa dessa!”
Pois é, o povo qui já tava doido cum aquilo e agora intão qui o padre falô, piorou a situação pro lado do tal de João. Padre é autoridade, né não? Padre sabe mió qui ninguém, ora!
A bem da verdade acunteceu o seguinte: num é qui o hôme, esse tal de João, botô a bicha no caixão e como num pode ir pro cemitério, interrou no quitá da casa dele mermo. Pois é! Quem viu diz qui foi uma choradeira só. E tudo isso por causa de uma barata, ispie só, vê se pode? Pode não, né?! Diz também, que todo santo dia, o hôme levava frôr pro tumulo da bicha. Deus mi livre e guarde! Se tiver vivo deve de tá levando frôr até hoje pra barata!
Pois é, isso acunteceu lá pras banda do São Francisco, lá na Bahia. Pelo menos assim qui mi contaram, eu qui num faço uma dessa. Mais!!... uma barata! Faço não! Esse povo tem cada uma! É esse o causo qui eu tinha pra contar pro cês. E diz qui é verdade verdadeira!... Tem gente pra tudo nesse mundo de meu Deus!



Adailton 06/01/03 – 01:38 h

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