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quarta-feira, abril 09, 2014

Diante da morte

Tinha 17 anos e um mundo em suas costas. Trabalhava em um escritório para pagar as contas. Morava sozinho em um cubículo. Buscando melhoras em sua vida, estudava. Vez ou outra se divertia.
Migrante, vivia distante dos pais já fazia alguns anos. Nunca conseguira retornar a seu torrão.
Certo dia, no escritório, toca o telefone, seu chefe informa que é de sua cidade natal, alguém queria lhe falar. Na sala, muitos olhos e ouvidos atentos. Na sua imensa timidez atende e ouve o recado do outro lado: sua mãe falecera. Em fala monossilábica, agradece à pessoa do outro lado por ter ligado.
Interrogações nos olhares dos colegas de trabalho pedem informações:
-- Minha mãe morreu!
Milhares de quilômetros os separavam. Pediu licença e foi ao banheiro. Choro, cheiro de merda e mijo e a falta de sentido da vida. Passado alguns minutos, lavou o rosto e retornou a seus afazeres.
A partir daquele dia, sempre se emudece diante da morte.

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