assomam...

assomam minhas dores
correntezas tempestuosas
que pulam sem jeito
em um mundo-abscesso

mergulho no vazio de mim
nado, nado a me buscar
tateio com os pés
a fundura de meu avesso

dezoito machos

pariste a humanidade
inventaste a agricultura
por isso, naquele início
criamos deusas
em tua homenagem
e à fertilidade da terra

eis que os machos guerreiros
se impuseram pela força
criaram deuses
depois o deus único
o único deus
que te criou da costela do homem
te disse:
"o teu desejo será para o teu marido,
e ele te dominará."

tudo do plano terrestre
repete o plano divino
sem nos perguntarmos:
quem criou quem?

milênios se passa
e tudo permanece
como deus quer:
dezoito homens decidem
sobre o teu corpo, mulher.
dezoito machos
dezoito machos

bestial

quando se desperta a besta
as bestas individuais se fortalecem
agem pautadas por bestialidades
em aparência, besteira para alguém

o monstro se alimenta
de mais monstruosidades
e dia a dia o que vemos
mais e mais irracionalidades

e o imenso país tropical
de monstruosidades bestiais
segue a trilha da desrazão
na vida e nas redes sociais

toda manhã

ainda que me pergunte
por quê? para quê?
o sol da manhã
insiste em repetir

faço meu café
e sigo sem fé
mas acreditando
no bicho humano

Akira em PVH

a lua
        que gosta dos poetas
ia alta

mas nós fomos mesmo
foi pro bar

lusco-fusco

quebram-se as luzes
é preciso seguir
mesmo às escuras

camarada artista
tua arte iluminará
segue a caminhar

ainda que à frente
encontre o fuzil
há de vir luz pro Brasil

instante

o colibri pousou

por um instante admirou

a flor que não beijou

saudade de mim

o pé descalço
na areia do rio seco
caçar passarinhos
(maldade infantil)
sonho de cidade grande
sem saber do duro concreto
                                             da morte dos sonhos...

saudade de mim
dos banhos do sol
da crueza do toque
do silêncio em fala

o sertão me rasga
a vida segue o triste
saudade de mim

caos

no princípio era kaos...

toque, retoque e se toque, humano
organize, organize-se, desorganize
se toca!
é pela toca, na quebrada
com a rapaziada
religue, se ligue!
ação
coopere
cooperação

como se organiza o caos?

comece
comece em você
"um mais um
sempre mais que dois"
disse o poeta
di(z) logo(s)
diálogo
gente
gente!
gentileza!
gentileza.

se toca
siga pela toca do coelho
inverta o mundo
desorganize
organize o caos

feia

é jovem
não é vista
qualidade:
ser tola

tem toda a cidade contra si
nem seu corpo é vendável
de tão tola, sorrir
recebe do mundo, o silêncio

são tantas macabéas
serão estrelas ao morrer?

feiavida
vidafeia
feiavidafeia
vidafeiavida
vida!

um certo joão

a ordem, é certo
vinha de alguém
de algum lugar:
crianças pedindo
aqui não vão ficar

esses pirralhos
que vem ao mundo
para incomodar
querem comida
mas não tem dinheiro
para comprar

comida, comida
- não sabem eles
é pra quem pode pagar
não pra quem vadeia
e fica a aprontar?

uma criança
de nome João
passa a clamar
a monstruosidade
homens em servidão
sua vida, vão tirar

atrasado

hoje é terça-feira
e vou atrasado
sai da frente
não tenho tempo

hoje é terça-feira
e estou atrasado
sai daí ciclista
respeita o carro
sai marcha lenta
e tome buzina
oh! pra você
o dedo do meio
e outros tantos
que possa enfiar
sai pedestre imbecil
veja o seu lugar

a cidade é civilizatória!
preciso chegar
hoje é terça-feira
sou atrasado
ninguém vai me parar

nosso tecido social...

nosso tecido social
hoje é feito de carne
sangue e pouca razão

os fios de ódio
urdem feia teia
enleam grupos
(tão cegos...)
esgarçam a trama
esvai-se a sociedade

poeta

vejam o poeta
seus duplos, a caminharem por aí
em cada passo, tenta não cair

razão, emoção
o poeta é
um pouco dos outros e tantos se

                       busca a expressão
                       labuta e cinze cada palavra
                       em seu coração

corpo...

corpo temperado?
faz tempo
minha têmpora
espera o temporal...
memória destemperada
de um tempo passado

tempo de copa

tempo de copa e de mazelas
meninos em campos de terra
dondocas em passarelas
o Estado calando quem berra

tratores avançam
caem favelas
renascem adiante
mas deixam sequelas

nascem prédios espelhados:
cimento, areia, ferros
e pedras plantadas
por mãos calejadas

sigo a perguntar:
espelho, espelho meu
quem te ergueu te pode comprar?
sei que nem tu, nem eu

28/10/13

O

                 O
            BALÃO
          LEVANTA
       VOA NO ALTO
QUASETOCAANÚVEM
      ATÉ COMEÇAR
         DESCER EO
              FOGO
               CON
                 SU
                MIR
                   C
                   IN
                     ZA
                        A
                         C
                           A
                             I
                              R