Baixinha e redonda. Cabelos
brancos, pernas tortas e riso largo. A experiência dos anos e a prática diária na
luta pela sobrevivência lhe havia dado uma habilidade incomum com objetos
manuais. Dentre as coisas que mais gostava de fazer eram as bonecas abayomi. A
boneca, vendida ou presenteada, sempre permite encontros preciosos entre a
artesã e aquele que recebe. Dona Rosa lembra:
- Sabe de onde vem? Era das
mulheres escravizadas que rasgavam seus vestidos para fazer bonecas para as
crianças nos navios negreiros. Bonito, né?
E uma história emenda na outra,
em mil e uma noites sem fim e sempre entremeados por risos.
- Eu não estudei muito não. Eu
tinha vergonha. Lembro que quando era pequena e minha professora me ensinou a
soletrar: c-ka, c-ke, c-ki, c-ko, c-ku. Ela falava “diz menina.” Eu vermelha, com
vergonha. Aí ela me pôs de joelho em cima de caroços de milho pra me incentivar
a leitura. Mas eu tinha muita vergonha de falar cu. Ela chamou minha mãe, que
me deu uma surra por não obedecer a professora. Tudo por causa do cu.
E torna a gargalhar enquanto suas
mãos não param de fazer as pequenas bonecas. Dona Rosa é daquelas que fazem limonadas
de todos os limões que a vida lhe dá.
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