setembro
o riso das mangueiras
no porto do velho
um velho porto
a aportar
as dores da exploração
mercúrio a escorrer
por tuas curvas
Madeira
a abundância que anuncia
o riso das mangueiras
a força das gentes
o sofrer do dia a dia
a miséria
de quem domina
escondido à sombra do poder
setembro
ainda te espero florescer
Publicação de contos, crônicas, poesias e artigos escritos por Adailtom Alves Teixeira (em artes Adailtom Alves). Outras redes: https://linktr.ee/adailtom.alves
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domingo, maio 31, 2020
sexta-feira, maio 29, 2020
Madeira
a energia de tuas cachoeiras
fez-se elétrica
ah! Madeira
e eu nem conheci tuas quedas
e caí
em tuas curvas
margeando, a procura
da Iara?
do teu ouro?
o caucho
os trilhos em meio a floresta
a dor Karitiana
a mistura de povos
a promessa de progresso
e nada resta...
vem cassiterita, ouro
agora vai
e nada fica
teu lindo pôr do sol
(que ainda resiste)
não esconde a dor do tucuxi
pela feiura do paredão da usina
fez-se elétrica
ah! Madeira
e eu nem conheci tuas quedas
e caí
em tuas curvas
margeando, a procura
da Iara?
do teu ouro?
o caucho
os trilhos em meio a floresta
a dor Karitiana
a mistura de povos
a promessa de progresso
e nada resta...
vem cassiterita, ouro
agora vai
e nada fica
teu lindo pôr do sol
(que ainda resiste)
não esconde a dor do tucuxi
pela feiura do paredão da usina
terça-feira, maio 12, 2020
a criança...
a criança estende a mão
pede?
o sol amazônico
calor do asfalto
miragem?
coroa-lhe com espinhos
pés descalços a descaminhar
finos sapatos cruzam
a invisibilidade é cruz
a esquina-calvário espreita
"o amanhã, morre hoje!"
06/05/2020
pede?
o sol amazônico
calor do asfalto
miragem?
coroa-lhe com espinhos
pés descalços a descaminhar
finos sapatos cruzam
a invisibilidade é cruz
a esquina-calvário espreita
"o amanhã, morre hoje!"
06/05/2020
segunda-feira, maio 11, 2020
amanhecer
o bem-te-vi
insiste em cantar
o que bem viu
ao longe, um galo
tece a manhã
sem outro a lhe ajudar
a cidade é dura
a carne é mole
galos e bem-te-vis, exceções
meu corpo grita
o dia acabou
o sol diz: começou!
insiste em cantar
o que bem viu
ao longe, um galo
tece a manhã
sem outro a lhe ajudar
a cidade é dura
a carne é mole
galos e bem-te-vis, exceções
meu corpo grita
o dia acabou
o sol diz: começou!
domingo, maio 10, 2020
selma
céu mar
a obviedade do verso
clareia a fragilidade do poeta
em te cantar
nossa lenta descoberta
nosso rompante amar
mestra na arte de fazer sorrir
desmanchas tristezas
com o teu gargalhar
eu e você
dupla que virou trio
uma filha
nosso poema maior
vida, onda que vem e vai
encontro torto que nos faz
a obviedade do verso
clareia a fragilidade do poeta
em te cantar
nossa lenta descoberta
nosso rompante amar
mestra na arte de fazer sorrir
desmanchas tristezas
com o teu gargalhar
eu e você
dupla que virou trio
uma filha
nosso poema maior
vida, onda que vem e vai
encontro torto que nos faz
aconchego de teu colo
onde encontro minha paz
sábado, maio 09, 2020
A humanidade somos todos nós
Recentemente, após a morte de seu amigo Flávio Migliaccio,
Lima Duarte disse lamentar e entender o amigo que
tirou a própria vida. Migliaccio afirmou em um bilhete que não cuidamos dos
velhos e apelou para que cuidemos das crianças.
No Brasil, ultrapassamos a cifra de mais de 10 mil mortos
pelo COVID-19. O Congresso decretou luto de três dias, porém é pouco. O
executivo e sua equipe debocha da vida de brasileiras e brasileiros, enquanto as instituições
acompanham caladas ou com pequenas manifestações públicas, sem tomar as
atitudes necessárias e urgentes. A impunidade é um duplo assassinato. Mata-se
duas vezes os mortos.
Quantas famílias não tem podido velar seus mortos? Pessoas
que nunca mais verão aqueles corpos. Desde a Antiguidade, no Ocidente, nossos
ancestrais lutam para velar os mortos e passar pelo luto. Pensemos na tragédia Antigone de Sófocles, por exemplo. Na Íliada de Homero, quando Heitor é morto
por Aquiles e este arrasta seu corpo, é uma desonra. Príamo, o pai
de Heitor e rei de Tróia, vai à cabana de Aquiles implorar para que este
devolva o corpo de Heitor para que seja velado. Velar os mortos é finalizar a
morte e a maneira dos vivos continuarem a viver após o luto.
A humanidade somos todos nós, em todas as nossas diferenças,
em nossa luz e trevas. Em um mundo de vítimas e carrascos, somos responsáveis,
como sociedade, pelos dois. Geramos os dois. Somos um todo na diversidade. Somos
responsáveis pelo que acontece de bom e ruim. Saberemos enfrentar as trevas
desse momento?
O que nosso trágico tempo tem demonstrado é que não fomos
ainda capazes de nos educarmos como um único grupo a ocupar uma mesma casa. Sairemos
suficientemente transformados para buscarmos essa mudança? Puniremos os
carrascos e saberemos cultivar nossa memória para que eles não mais voltem?
esquina
ali na rodoviária
(por o pé na estrada)
na esquina da dom pedro
(cabeça que não foi cortada)
a fome espreita
(vidas que não valem nada)
o sexo está à venda
(o amanhã é piada)
quantas esquinas há rodoviárias
no brasil, onde vidas valem nada?
(por o pé na estrada)
na esquina da dom pedro
(cabeça que não foi cortada)
a fome espreita
(vidas que não valem nada)
o sexo está à venda
(o amanhã é piada)
quantas esquinas há rodoviárias
no brasil, onde vidas valem nada?
roubada
pernas penadas pelas calçadas
pequenas, quase peladas
adiante, socos e pontapés
pernadas
- pega o trombadinha!
qual vida foi primeiro roubada?
pequenas, quase peladas
adiante, socos e pontapés
pernadas
- pega o trombadinha!
qual vida foi primeiro roubada?
quarta-feira, maio 06, 2020
boia o boto...
boia o boto e seus mistérios
de beleza e de encantos
curumim e cunhatã
yara e seus acalantos
o rio roça o barranco
movimento, sedução
o homem, pesado, triste
provoca degradação
plástico metal mercúrio
usina lixo esgoto
tudo ao leito, delírio
rompemos nosso contato
deixamos o natural
pela selva de croncreto
de beleza e de encantos
curumim e cunhatã
yara e seus acalantos
o rio roça o barranco
movimento, sedução
o homem, pesado, triste
provoca degradação
plástico metal mercúrio
usina lixo esgoto
tudo ao leito, delírio
rompemos nosso contato
deixamos o natural
pela selva de croncreto
sexta-feira, maio 01, 2020
um rio...
um rio de fumaça
inundava o ar
a bala veloz
sempre a matar
indígenas, campesinos
deputado a discursar
defende esse progresso
onde vida não há
lá fora, ouço o riso
dos grandes capitalistas
e de seus lacaios de cá
o invisível a nos matar
pensam que a natureza
é algo que se possa domar.
inundava o ar
a bala veloz
sempre a matar
indígenas, campesinos
deputado a discursar
defende esse progresso
onde vida não há
lá fora, ouço o riso
dos grandes capitalistas
e de seus lacaios de cá
o invisível a nos matar
pensam que a natureza
é algo que se possa domar.
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