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sábado, maio 09, 2020

A humanidade somos todos nós



Recentemente, após a morte de seu amigo Flávio Migliaccio, Lima Duarte  disse lamentar e entender o amigo que tirou a própria vida. Migliaccio afirmou em um bilhete que não cuidamos dos velhos e apelou para que cuidemos das crianças.

No Brasil, ultrapassamos a cifra de mais de 10 mil mortos pelo COVID-19. O Congresso decretou luto de três dias, porém é pouco. O executivo e sua equipe debocha da vida de brasileiras e brasileiros, enquanto as instituições acompanham caladas ou com pequenas manifestações públicas, sem tomar as atitudes necessárias e urgentes. A impunidade é um duplo assassinato. Mata-se duas vezes os mortos.

Quantas famílias não tem podido velar seus mortos? Pessoas que nunca mais verão aqueles corpos. Desde a Antiguidade, no Ocidente, nossos ancestrais lutam para velar os mortos e passar pelo luto. Pensemos na tragédia Antigone de Sófocles, por exemplo. Na Íliada de Homero, quando Heitor é morto por Aquiles e este arrasta seu corpo, é uma desonra. Príamo, o pai de Heitor e rei de Tróia, vai à cabana de Aquiles implorar para que este devolva o corpo de Heitor para que seja velado. Velar os mortos é finalizar a morte e a maneira dos vivos continuarem a viver após o luto.

A humanidade somos todos nós, em todas as nossas diferenças, em nossa luz e trevas. Em um mundo de vítimas e carrascos, somos responsáveis, como sociedade, pelos dois. Geramos os dois. Somos um todo na diversidade. Somos responsáveis pelo que acontece de bom e ruim. Saberemos enfrentar as trevas desse momento?

O que nosso trágico tempo tem demonstrado é que não fomos ainda capazes de nos educarmos como um único grupo a ocupar uma mesma casa. Sairemos suficientemente transformados para buscarmos essa mudança? Puniremos os carrascos e saberemos cultivar nossa memória para que eles não mais voltem?  

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