Pesquisar este blog

quarta-feira, julho 07, 2021

A águia a e a galinha*

Era uma vez uma águia
pega ainda filhote
por um pobre camponês;
interrompendo sua sorte
criou-a como galinha
vida comum se avizinha.
Sua sina até a morte?

Eis, porém, que um certo dia
passou um naturalista
que aquele fato estranhou:
- Isso não é realista
águia em meio a galinhas
e criadas iguaizinhas
isso é surrealista!

O naturalista quis
ao seu habitat natural
aquela águia devolver.
- Ela agora é igual
a todo o galináceo,
diz o camponês eráceo
olhando o seu quintal.

Insistiu o naturalista:
- vamos fazê-la voar
para que conquiste o céu.
Ergueu a águia no ar:
- Voe, abra suas asas.
Mas, para as submissas
ela pôs-se a retornar.

E o campônio exclamou:
- Eis, galinha simplesmente!
Disse o naturalista:
- Sua natureza não mente,
a águia aos céus pertence.
Amanhã, sei, ela vence
insistamos novamente.

Cedo, na manhã seguinte
ao teto da casa subiu.
- Você é águia, voe, voe!
O naturalista agiu.
Mas, lá embaixo ciscando
e em minhocas bicando,
galinhas. A águia convergiu

para as suas irmãs.
- Viu? Ela virou galinha,
afirmou o camponês.
- Vou fazê-la andar na linha,
replicou o naturalista
- Primeiro ponto da lista:
águia nunca foi galinha.

- Amanhã ela vai voar
da águia, não vou desistir,
afirma o naturalista.
Cedo iria insistir.
No alto de uma montanha
recomeçou sua campanha
para efeito sortir.

Havia sol naquele dia.
- Ao céu você pertence
e não à terra, voe, voe!
A águia assim se convence
a luz do sol lhe penetrou
ganhou forças, logo voou.
O naturalista vence.

Seja galinha ou águia
não há ser mais importante
ambos tem sua natureza.
Já o ser humano, mutante
pode vir na vida ser
ambos e até convencer
nessa vida hesitante.

Mas quem nasce para águia
galinha jamais será.
A águia e seu espírito
a todes pertencerá.
Vamos abrir nossas asas
fazer dos céus nossas casas
e ninguém nos deterá. 


* Tomei aqui a história narrada no capítulo 2 do livro de BOFF, Leonardo, A águia e a galinha. 34ª ed. Petrópolis/RJ, 2008. Por sua vez, Boff colheu a história de um educador de Gana, James Aggrey.

Nenhum comentário: