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segunda-feira, novembro 25, 2013

Futuro

Oito anos e já sentia todo o peso do mundo em suas costas. Sua delicadeza infantil abria portas: era tolerado nos comércios, mesmo os mais chiques. Sempre arrancava sorrisos e tostões. Menos dos turrões e sempre há turrões em todos os lugares. Decerto daqui a alguns anos seria diferente. Uma criança na rua vendendo, vá lá, mas um adolescente?! Não, não se pode tolerar.

Mas nada disso passava por sua cabeça e, sendo criança, persistia em atitudes infantis. As vezes, perdia quase uma hora a brincar: uma pedra diferente que encontrava, um painel com imagens engraçadas. Quase uma hora perdida por vívida imaginação. Muito tempo, para um dia de trabalho de oito horas. Pensava ser livre, mas quem luta diariamente para poder comer, não tem liberdade.

No próximo ano, se conseguisse escola, talvez sua jornada diminuísse ou talvez fosse necessário adentrar a noite, o que, de certa forma, seria bom, assim, já iria acostumando-se aos ares noturnos.
Seu nome era Paulo, mas as vezes ouvia à boca miúda: "Eis aí o futuro!"
"Futuro". Gostava. Parecia ser importante.

Futuro que não veio, não pode ter. Paulo pegou um tiro por distração, quando voltava para casa no início de uma dessas noites enluaradas. Essas crianças distraídas, que não cuidam de seu viver...


07/11/13

Um comentário:

Sueli Kimura disse...

Belo e emocionante texto Adailton, mas nós sabemos que a realidade pode ser diferente neh?

abraçosd

Sueli K