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domingo, maio 26, 2024

Um mundo a descobrir


O sol do meio-dia ardia implacável sobre o sertão cearense, e o rio seco serpenteava como uma cicatriz através da paisagem desolada. Francisco, um menino de apenas dez anos, caminhava descalço sobre o leito arenoso do rio, sentindo os grãos de areia quentes queimarem seus pés. A cada passo, o chão parecia vibrar de calor, e o horizonte tremulava como um sonho distante e intangível.

Francisco sempre fora um sonhador. Apesar das dificuldades de sua vida no sertão, sua imaginação era fértil como a caatinga após as raras chuvas. Naquela tarde, enquanto caminhava pelo rio seco, ele sonhava com outras vidas e outros mundos. Seus olhos, tão escuros e profundos quanto o céu noturno, fitavam o vazio com um brilho de esperança e curiosidade.

Ele imaginava-se um explorador em um mundo desconhecido, onde o rio seco se transformava em um vasto mar azul, com ondas altas e espuma branca. Sentia a brisa salgada do oceano em seu rosto, e ouvia o som das gaivotas sobrevoando seu barco imaginário. Francisco podia quase ver a linha do horizonte onde o céu encontrava o mar, prometendo aventuras sem fim.

Em sua mente, ele navegava por ilhas exóticas, cobertas de florestas densas e habitadas por criaturas fantásticas. Havia dragões alados e fadas luminosas, e ele era o herói corajoso que desbravava aqueles territórios inexplorados, resgatando tesouros perdidos e desvendando segredos antigos. O som do vento nas folhas das árvores misturava-se ao canto dos pássaros, criando uma melodia encantadora que ecoava em seu coração.

De repente, uma sombra cruzou o caminho de Francisco, trazendo-o de volta à realidade árida do sertão. Era uma nuvem passageira, uma bênção momentânea no calor abrasador. Ele parou e olhou para o céu, agradecendo pela breve pausa do sol escaldante. A nuvem continuou sua jornada, mas a sombra que ela deixara ainda persistia na mente do menino, como um lembrete de que a esperança e a imaginação podem florescer mesmo nos lugares mais inóspitos.

Enquanto retomava sua caminhada, Francisco avistou algo brilhando na areia mais adiante. Correu até o local e encontrou um pequeno espelho quebrado, provavelmente deixado por algum viajante. Pegou o espelho com cuidado, observando seu próprio reflexo fragmentado. Seus olhos sonhadores pareciam mais brilhantes do que nunca, refletindo a luz do sol e o vasto mundo interior que habitava sua mente.

Com o espelho na mão, Francisco continuou sua jornada pelo rio seco, mas agora ele tinha um novo objetivo. Ele decidiu que, um dia, sairia do sertão e exploraria o mundo além das dunas e caatingas. Ele conheceria oceanos de verdade, ilhas misteriosas e criaturas fantásticas. Ele seria o herói de suas próprias histórias.

O sol começou a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Francisco sabia que era hora de voltar para casa, mas sua mente continuava a vagar por aqueles mundos imaginários. Cada passo no caminho de volta era acompanhado por uma promessa silenciosa: a de que um dia ele realizaria seus sonhos e mostraria ao mundo que, mesmo sob o sol escaldante do Ceará, um menino pode encontrar beleza, esperança e aventuras infinitas.

            E assim, com o coração cheio de sonhos e os pés descalços sobre a areia quente, Francisco caminhou de volta para sua pequena casa no sertão, levando consigo a certeza de que o mundo é vasto e cheio de possibilidades, esperando apenas para ser descoberto. 

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