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domingo, dezembro 14, 2014

segunda-feira, dezembro 08, 2014

meu peito

um oco
meu peito
estreito
batido
imperfeito

na realidade
é só um jeito
meio suspeito
de sentir saudade

domingo, dezembro 07, 2014

encanto

havia tanto por saber:
quanto iria durar?
como é, junto, viver?
poderia até casar...

mas, o encanto é brejeiro
e nada vem por inteiro
e tudo durou apenas
o tempo de um beijo...

sábado, dezembro 06, 2014

terça-feira, dezembro 02, 2014

magia

vi na via
o que não via
que tudo pode vir
a ser magia
descoberta do dia-a-dia
enfrentar quem fica
com nossa mais-valia
e fazer da agonia
nossa carta de alforria

domingo, novembro 30, 2014

mania

ah! essa mania...
teimo em rimar
fazer do amor
um imenso mar
da dor, o motor
de meu caminhar

quinta-feira, novembro 27, 2014

meu verso...

meu verso simples
jogo por aí, fecundo
para bater e apanhar
vai pra boca do mundo
ser devorado, escarrado
criticado e espancado
sofrer safanões da vida
sim, para aprender
e mesmo que perder
continuarei a dizê-lo
sua função é conviver

voar...

voar, voar
tocar o céu
teus olhos
a me olhar

domingo, novembro 23, 2014

sábado, novembro 22, 2014

sexta-feira, novembro 21, 2014

telejornal

cisco no olho:
beleza no telejornal
quando tudo vai mal

o cisco aumenta
na realidade abissal
tudo fica sobrenatural

quinta-feira, novembro 20, 2014

quarta-feira, novembro 19, 2014

quarta-feira, outubro 22, 2014

da minha casa à tua

da minha casa à tua
                              ponte de estrelas
colunas de pedras
                              sustentam nosso amor

como flores amarelas
                              nesse alvorecer

quinta-feira, outubro 09, 2014

segunda-feira, setembro 01, 2014

gente comum

ando por essas ruas
com meu tênis
pago a prestação
feitos por pessoas
em algum lugar desse vasto mundo
que, talvez, nunca puderam calçar um

entro no ônibus, pago a passagem
admiro o imenso coletivo
feito por outros homens e mulheres
em alguma multinacional
que tem um dono
que se quer conhece àqueles que o fizeram
e é provável que nunca tenha andado de ônibus

entro na papelaria
para comprar um caderno
para anotar esses versos
papeis, cadernos
feito por outros
outras pessoas comuns
saberão escrever?

a magia do mundo
que não percebemos
feito de e por pessoas comuns
como eu
que caminho com meu velho tênis
enquanto penso no trabalho por trás das coisas
em cada coisa
muitas pessoas
como eu, gente comum

domingo, agosto 31, 2014

o bicho homem

o bicho homem
(tão pequeno)
faz imensas coisas
para se fazer grande:
cargueiros, trens, aviões...

o bicho homem
(tão grande)
não consegue acabar
com a aflição
que vem de uma minoria
(tão pequeno)

o bicho homem
tão grande no fazer
tão pequeno na ação
conseguirá desfazer
tamanha exploração?

sábado, agosto 30, 2014

bate...

bate, bate vida
bate forte
faz ferida

bato, bato forte
bato contra o muro
ou será minha morte

bato, rebato no duro
até vir o furo

sexta-feira, agosto 29, 2014

um barco

um furo no casco
uma avaria
o barco segue...
a terceira classe festeja
tem farinha, hambúrguer
às vezes, cerveja
veja
enquanto a primeira classe
senta com o comandante
e tudo decide
a massa pula, celebra
as decisões que vem de cima
em cima delas
o barco segue
afundará?
que importa
só os melhores irão se salvar
tomarão champagne
comerão caviar


Ao presenciar leitura de uma obra do dramaturgo Chico de Assis

quinta-feira, agosto 28, 2014

nesse momento

nesse momento
neste exato momento
guerras sujas são travadas
em nome da riqueza
               e toda guerra é suja
               e toda riqueza espúria

nesse momento
crianças morrem de desnutrição
e outras doenças de pobres
muitas, por lhes faltarem o pão

nesse momento
tantas mulheres sofrem
com o macho opressor
e ainda calam a sua dor

nesse momento
muitas são as mazelas
e muitas as atitudes
que podem mudá-las

quarta-feira, agosto 27, 2014

terça-feira, agosto 26, 2014

cena

olhar panorâmico:
montanha, nuvem... terror
mulher morta a facadas
placa: " não pise na flor"

segunda-feira, agosto 25, 2014

periferia III

           em cada família
vidas, vidas perdidas!
           em cada periferia
muitas, muitas feridas

domingo, agosto 24, 2014

corda bamba

viver na corda bamba
bambeando em roda
rodando o bambolê
para se viver

dureza do cotidiano
de quem está cansado
de tanto perder

sábado, agosto 23, 2014

espelho

o rosto no espelho
não sou eu
barba, cabelo, bigode
não sou eu...

sou aquele que corre
sob o sol escaldante
o da briga na escola
da queda da goiabeira
o que banha-se no rio
em plena ditadura
e ignora os porões...
eu, filho da ditadura
e que nada sabia de Brasil

sou aquele que muda a todo instante
o nômade indígena
sou eu, a mudar, a mudar-me
sou eu a desvirginar-se em praça pública
sou eu a casar e separar, casar e separar
até encontrar meu lugar
sou eu a tornar-me artista
tornar-me artista, meu deus!
pra dizer o quê
se há tanto por fazer?

sou eu
sou eu nessa segunda-feira de sol de verão
nesse espelho
nesse reflexo
nessa vida sem chão!

27/01/14

sexta-feira, agosto 22, 2014

quinta-feira, agosto 21, 2014

menino

era uma vez
um menino correndo no tempo
no contratempo do tempo
de uma música desritmada
fora de tempo
do menino que corre
contra seu tempo...

quarta-feira, agosto 20, 2014

enterrado...

enterrado a cada manhã
um pedaço por dia
um mortovivo caminha
até que, certo dia
estará sob a lápide
eter
      na
          mente

terça-feira, agosto 19, 2014

segunda-feira, agosto 18, 2014

sábado, agosto 16, 2014

amar...

amar
        amarga
o sal           da
        saudade
                    meu céu
tão blue
                    meu corpo
em teu
                    passos
anseia
          teus
                    amassos

sexta-feira, agosto 15, 2014

quinta-feira, agosto 14, 2014

República

tanta devoção à deusa
República
pernas abertas
sifilítica
prostituída
nos corredores do poder

quarta-feira, agosto 13, 2014

canto

nesse meu canto
não tenho canto
não tenho pátria
nem mátria
sou aquele que erra
meu lugar
é toda a terra

terça-feira, agosto 12, 2014

medo

o medo nos une
viva a insegurança
a paz ameaçada
a prisão comprada

desconfiai de teu irmão
ele pode ser ladrão
não questione se lhe falta o pão
temer é nosso dever
acreditar no santo da tv

não fique imune
só o medo nos une

segunda-feira, agosto 11, 2014

sábado, agosto 09, 2014

Eu vi

na rua do poeta
Gonçalves Dias
um índio na calçada
garrafa na mão
gritava alto:
eu vi, eu vi
ele chegou chutando
depois atirou
foi assim
foi sim...
depois, tudo era silêncio
na rua do poeta

terça-feira, agosto 05, 2014

partido

partido ao meio
no meio do mundo
um eco profundo
ressoa
nessa cidade
ecoa
saudade
saudade

domingo, agosto 03, 2014

sábado, agosto 02, 2014

sexta-feira, agosto 01, 2014

vida

torrente de vida
turbilhão excitante
sempre a nos jogar
queremos o rio
nos joga pro mar

quinta-feira, julho 31, 2014

rosa

a rosa era azul
cravada no vermelho
do tecido cru

rosa tecida
fios sobre o chão
tornou mais triste
o meu coração

quarta-feira, julho 30, 2014

terça-feira, julho 29, 2014

domingo, julho 27, 2014

goteira

vida-goteira
sempre a gotejar
pinga dia sim
outro não
nunca enche o pote
mas, um dia
romperá a telha
transbordará
esparramando-se
feito mar

sábado, julho 26, 2014

caverna

porta entreaberta
fresta de luz, raio
que vem e desperta

                            cegueira diária
                            vasta multidão
                            vida ordinária

presos na senzala
ignoram a luz
gritos que se cala
                         

sexta-feira, julho 25, 2014

monturo

olhei pro passado
não vi o presente
sonhei com o futuro

                              rastro de destruição...
                              quando iremos vencer?
                              tanta perdição, monturo

quinta-feira, julho 24, 2014

terça-feira, julho 22, 2014

sertão IV

sentir o sertão:
correr o seco
mergulhar na caatinga
pegar o sol com a mão
desejar a flor
colher espinho

segunda-feira, julho 21, 2014

resistência

contra a força bruta
resistência
onde calam a fala
explode o canto

sempre há de brotar
flor do asfalto

domingo, julho 20, 2014

mar

quebra onda
vem segredar
vem me trazer
segredos do mar

molha meus pés
enquanto sonho
vida que muda
eu tão bisonho

a maresia
pura alegria
quase sabor
em seu odor

quebra onda
vem revelar
o bom viver
fora do mar

sábado, julho 19, 2014

Pássaro da ditadura

Curió
(em nossas terras)
pássaro que não sabe voar...

corre, corre, corre
(tem até papagaios)
ele sabe atirar

tanto bicho estranho
(tudo se pode ser)
com pena pra pagar

o verde ouro
(pelada serra)
a anistiar

sexta-feira, julho 18, 2014

dia-a-dia

todo dia a mesma ação
a mesma velha estação
mesma falta de tesão
só para comer o pão

quinta-feira, julho 17, 2014

A

luto       luto       luto       luto       luto       luto
   
           ater-se                    a                    luta

lutar                      até
                                  ter                        luta
lutar                                  a
                                             terra          luta

luta       luta        luta       luta        luta      luta

quarta-feira, julho 16, 2014

personagens

cadê o Arlequino
Pedro Malazartes
Chicó, João Grilo?
Cadê o malandro do morro?
Se ainda há, pedem socorro
filhos de um tempo pregresso
engolidos pelo progresso

terça-feira, julho 15, 2014

vontade II

só por hoje não falarei das mazelas
falarei de sorrisos de crianças
do afago das mães...
só não posso abrir a janela

só por hoje, a vida será bela
o vento sopra perfume de flores
gato corre, brinca
com o filhote da cadela

por distração, assomo à janela
o sonho caiu por terra
toda a dura realidade
bate a minha cara, me soterra

segunda-feira, julho 14, 2014

sábado, julho 12, 2014

cotidiano

no aperto diário do trem
tentar ser, encontrar o humano
ver poesia onde não tem

quebrar as couraças que nos impõem
sobreviver ao cotidiano
encher de vida o vai e vem

sexta-feira, julho 11, 2014

terça-feira, julho 08, 2014

segunda-feira, julho 07, 2014

São Paulo II

São Paulo é tudo que há
inclusive a falta de ar

São Paulo é tudo de bom
até sua falta de tom

São Paulo não dá mais
cresceu, cresceu demais

São Paulo é só contradição
nem tudo tem solução

São Paulo, procure e vai achar
desde que possa pagar

domingo, julho 06, 2014

ruas II

saber que é de todos
do casal a passear
e do sem teto
que em ti
vai morar

ruas de disputas
de camelôs, mendigos
artistas e putas
ruas largas, estreitas
todos a reinventarem
ao te ocuparem...

sábado, julho 05, 2014

vontade

quero fazer um poema
que te arranque do cômodo
do mesmo lugar
que te angustie
que não te deixe contente
que te zangue
te faça indignar
com os absurdos da vida
com o dia-a-dia de nossa gente
pobre, sofrida

que meu poema te tire do lugar
e te faça lutar

sexta-feira, julho 04, 2014

ruas

a rebeldia organizada
tomou as ruas
querem mudar
tudo que aí estar
querem o novo
demonstram que o poder
sempre emana do povo

quinta-feira, julho 03, 2014

sabedoria popular

gato toma banho de língua
com medo de se molhar
cobras sabem rastejar
por falta de pés pra caminhar
gente fala
até quando deve calar

quarta-feira, julho 02, 2014

segunda-feira, junho 30, 2014

ver além

detectar o inimigo
acertar o alvo
para sair do perigo

o que é democracia
no mundo
vigiado pela CIA?

o que é ilegal
no mundo
regulado pelo capital?

sábado, junho 28, 2014

quinta-feira, junho 26, 2014

voltar

saí sem avisar
sem ter hora pra voltar
cinco anos depois
a cama estava no mesmo lugar
e você com um sorriso
ainda a me esperar
o amor causa surpresas
impossíveis de acreditar

terça-feira, junho 24, 2014

segunda-feira, junho 23, 2014

sábado, junho 21, 2014

sexta-feira, junho 20, 2014

terça-feira, junho 17, 2014

desilusão

e eu que pensava que sabia
o mundo se abriu, revelando-se
e entre nós, acabou-se a magia

corpo calejado

corpo calejado
de tanto ser jogado
todo dia, tão igual:
engolido pelo ônibus
moído no trem
aos pés do patrão
                           chutado

não quer mais
essa vida de cão
mas sem forças
pra dizer não
a mão que oprime
permite a compra do pão

dia há de vir
que essa forma de viver
pereça
e que a alegria
se estabeleça
com um grito de alforria

nas ruas veremos o canto
como forma de festejo
todos juntos, um só corpo
manifestando seu desejo
tudo se reinventando
desde já, antevejo

quinta-feira, maio 29, 2014

a mão que pede

a mão que pede
e não alcança
de tanto pedir, cansa
a mesma mão
na desesperança
a arma vai sacar
para poder tomar

domingo, maio 11, 2014

16

queria escrever uma música
não um poema - que dilema! -
em que o ritmo não caísse
e o silêncio sobressaísse.

sexta-feira, maio 09, 2014

15

Um pé, cinco dedos.
Não é o chulé
que causa medo
é sua força
ao pisar e esmagar
a pobre formiga
que passeava
aliás, trabalhava
buscava comida
para aliviar sua vida
sempre sofrida.

Quantos enormes pés há por aí
a esmagar pequenas formigas?

quinta-feira, maio 08, 2014

14

solidão é uma triste senhora
rejeitada, ninguém quer
mas insiste pegar no nosso pé

quarta-feira, maio 07, 2014

13

Acordei
triste pesadelo!
Bandeiras e mais bandeiras
(e muitos bandeirantes)
gritos efusivos de gol
ignoravam os corpos
despejados, caídos pelo chão...
Tudo era festa
havia até patrocínio oficial.
Boçal!

segunda-feira, maio 05, 2014

11

uma chuva de cartazes
segurados por muitas mãos
pés que caminham
(em qual direção?)
bocas que gritam
pedem um novo país
mas o poder é surdo
e analfabeto.

domingo, maio 04, 2014

10

É perigoso o amor
próximo a fogueira
em meio a neve ligeira...

Se o desejo vem  em rompante
sair da cama ainda quente,
quando se é o amante...

sábado, maio 03, 2014

sexta-feira, maio 02, 2014

8

o vento arranca
a pétala da rosa
envelhecida
dando-lhe nova vida

lembro daquele momento
que não aconteceu
vida que se perdeu.

quinta-feira, maio 01, 2014

Pinheiro amarelo

alimentava meus olhos
o amarelo daquela árvore
cortaram-na...

meu dia e meu poema
ficou sem rima, sem ritmo
e sem final.

quarta-feira, abril 30, 2014

terça-feira, abril 29, 2014

sábado, abril 26, 2014

Tempo

naquele outubro primaveril
corri para pegar o sol
veio a noite de meus dias

o tempo logo escorregou
minhas calças encurtaram
minha juventude levou

sexta-feira, abril 25, 2014

Cena

o menino saca a arma
puxa o gatilho
(apito de trem ao longe)
em preto e branco
sorrir para a mãe
a bala (em cores)
sai lentamente
ainda vemos o rosto da vítima
(close)
espanto
não há final feliz
não há final feliz
o giroflex, a sirene
a cidade vista do alto
música triste
não há final feliz
não há final feliz

quinta-feira, abril 24, 2014

Sexta-feira

Para Selma
Aquela sexta-feira
era apenas um jantar
fui encontrar-me

Aquela sexta-feira
você a cozinhar
fui pra não voltar

Aquela sexta-feira
nós dois a conversar
noite adentro amar, amar...

Tenho aquela sexta-feira
em teus olhos a brilhar
no teu sorriso ao acordar.

quarta-feira, abril 23, 2014

terça-feira, abril 22, 2014

4

no oco imundo
do escuro profundo
meu mundo
                  é
                  silêncio
                  de moribundo

segunda-feira, abril 21, 2014

sábado, abril 19, 2014

História popular

Onde está a Margarida?
Depois que atirou o pau no gato
pegou o trem de ferro
chupando um pirolito
dançou a ciranda
na capelinha de melão
com cinco escravos de Jó.
Foi pescar o peixe vivo
mas a canoa virou...
Foi socorrida pela Sinhá Marreca
e pelo sapo Jururu.
Já salva, juntou o seu pezinho
ao lado de Teresinha de Jesus
e orou para São João da-ra-rão!

sexta-feira, abril 18, 2014

quinta-feira, abril 17, 2014

quarta-feira, abril 16, 2014

Cadeia alimentar

A criança
(em seu instinto?)
sobre a cadeia alimentar:
se a lagartixa come a borboleta
o bicho homem tem de matá-la.
Dialogo:
no meio silvestre é natural
mas o humano pode optar.

quarta-feira, abril 09, 2014

Diante da morte

Tinha 17 anos e um mundo em suas costas. Trabalhava em um escritório para pagar as contas. Morava sozinho em um cubículo. Buscando melhoras em sua vida, estudava. Vez ou outra se divertia.
Migrante, vivia distante dos pais já fazia alguns anos. Nunca conseguira retornar a seu torrão.
Certo dia, no escritório, toca o telefone, seu chefe informa que é de sua cidade natal, alguém queria lhe falar. Na sala, muitos olhos e ouvidos atentos. Na sua imensa timidez atende e ouve o recado do outro lado: sua mãe falecera. Em fala monossilábica, agradece à pessoa do outro lado por ter ligado.
Interrogações nos olhares dos colegas de trabalho pedem informações:
-- Minha mãe morreu!
Milhares de quilômetros os separavam. Pediu licença e foi ao banheiro. Choro, cheiro de merda e mijo e a falta de sentido da vida. Passado alguns minutos, lavou o rosto e retornou a seus afazeres.
A partir daquele dia, sempre se emudece diante da morte.

quinta-feira, março 20, 2014

Indignação

É jovem, na agitação de seus 23 anos. Naquela manhã, chegou no trem no horário de sempre. Era uma quente manhã. A estação, como sempre, lotada, mas naquele dia parecia exceder em passageiros. "Ah! se fosse passageiro!"
Depois de muita empurra-empurra, conseguiu entrar no trem. Provavelmente, naquele aperto, teria amassado a marmita e naquele calor, decerto iria azedar. Ficaria sem almoço outra vez. "Regime forçado. Daria uma boa reportagem...".
Chegou ao seu local de trabalho e fez questão de cumprimentar todos os seus colegas, trabalhadores como ele, com um largo sorriso. Caminhou pelos corredores, pensando em toda a situação que passara no trem. Não aguentava mais. Foi até a sala do patrão, cumprimentou a secretária e já foi entrando. Jogou a marmita azeda sobre a mesa e gritou:
- Come você essa merda! Saiu da sala, direto pro RH, mas com sorriso nos lábios.

terça-feira, março 18, 2014

Mar e barcos

Adorava seu trabalho. Acordava todos os dias bem cedo e sorrindo se dirigia ao escritório. Hoje não seria diferente.
No escritório, da janela do vigésimo andar, olha pela vidraça a chuva que cai sobre a cidade.  Pôs-se a pensar: "A vida é um mar com suas belezas, tormentas, lugares exóticos... Nós somos barcos, sempre a navegar em direção a algum porto..." Estancou seu pensamento:
- Para qual porto estou a rumar?
Lá fora, a chuva tornou-se mais convidativa que os papéis na mesa à sua frente. Afrouxou a gravata e passou a não ver muito sentido em seu cotidiano...
Começou a bailar.

sexta-feira, março 07, 2014

Garigari, sou mais gari

Mais de mil garis na avenida
pulando, sorrindo, dançando
tomando conta de suas vidas!

O Rio laranja é bonito
tem até o mestre Sorriso
levando, em apoio, seu grito!

Sapucaí é logo ali
vejam a onda laranja
com seu mestre sala a sorrir

a graça da porta bandeira
revela a garra de uma gente
altiva, forte, brasileira!


07/03/14

quarta-feira, março 05, 2014

terça-feira, março 04, 2014

Sertão III

Dou vivas ao sertão
porque sou catingueiro;
lá, a situação é difícil
mas o povo é ligeiro.

Sertão, sempre a expulsar
quebrando sua magia
mas sua gente é forte
a força vem de sua alegria.

Mulher, homem, menino
sertanejos insistentes
enfrentam a seca
como guerreiros valentes!

30/11/13

segunda-feira, março 03, 2014

Carnaval

um homem caído
cheiro de mijo no chão
duas moças se beijam
uma terceira
passa apressada
com a bíblia na mão
uma senhora
que tudo olha
sorriso em clarão
afirma, com total aval:
- a vida é carnaval

domingo, março 02, 2014

Retrô

depois de tanto trabalhar
queria chegar ao metrô
na primeira esquina
crianças cheirando cola
do outro lado da rua
outra queimava os dedos
na ânsia de fumar a pedra crua
continuei, tinha que chegar ao metrô
quantos convites ao sexo
putas oferecem seu amor...
policiais dão uma dura
o homem negro, dizia ser trabalhador
cansaço. o metrô estava próximo
o prédio, ocupado por sem tetos
(em polvorosa)
parecia ter recebido a ordem do senhor juiz
desocupação
a manchete do jornal:
"maior lucro dos bancos em todos os tempos"

enquanto caminhava até o metrô
lembrei que, recentemente, alguém me disse
que ser de esquerda, é ser retrô

quero apenas chegar
ao maldito metrô
a cada passo que dou
vejo a mão do opressor

01/03/14

sábado, março 01, 2014

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Aqui e lá

Em algum ponto da terra
pessoas, em guerra, morreram
Por elas, as nuvens se derramaram.

Em algum lugar
alguém sofre por amor
a chuva expressou sua dor

Das nuvens, a chuva a cair
Aqui ou lá, problemas
continuam a existir...

Como cai das nuvens
águas para lavar
meus olhos a chorar.

quinta-feira, fevereiro 27, 2014

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Questões e citações

"Quem regula a América?"
Quem controla o FMI?
Quem elege o presidente do Banco Mundial?
Nossas vidas todo o tempo vigiadas
e a resposta que queremos, é confidencial?

"Todo camburão tem um pouco de navio negreiro..."
"Quem policia a polícia?"
O Estado com seu monopólio da violência
tão seletivo na escolha de quem castiga
feridas e mais feridas abertas na periferia.

A educação que serve ao patrão
também serve para você?
saiba o seu lugar
procure saber
para questionar e modificar.

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Risco

                            eu arrisco
risco                                                                 rabisco
                               belisco
viro corisco
                              derrubo
                              obelisco

domingo, fevereiro 23, 2014

sábado, fevereiro 22, 2014

noite

visitar o inferno
                           para saber o valor
                                                          de uma noite de inverno

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Grito

sorrir
quando te fazem chorar
gritar
quando te querem calar
poesia
quando a vida estancar

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

terça-feira, fevereiro 18, 2014

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

sábado, fevereiro 15, 2014

tic tac

tic tac tic tac
voa vento
cai chuva
eu, tormento

vai, vem,
sopra, lava
relógio para
meu coração
um trem

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Questão

Condenados a esta prisão
lama em poço profundo...
Para onde ir?
Saltar fora do mundo?

Lá, aqui, tanto faz
tudo gira sem sair do lugar
corre, volta e vai
onde nunca se pode chegar.

Tua dor é querer e não pegar
a minha, é não transformar
um mundo que desaba,
e que pode nos findar.

Rio

Rio, imenso rio
nem tu, nem eu
somos os mesmos...
Quem mais sofreu?

Águas, que tudo levas
só deixas minhas mágoas
do tempo vivido
e muito sofrido.

Ser e não ser
permanecer vivendo
como águas desse rio
entre pedras, seguindo...

15/10/13

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Poetas


Reviver. Reler
todos os poetas
forjados nos tempos difíceis
(em nosso tempo obscuro)
solitários; soturnos...
obras que sobrevivem
além túmulo.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Educar

Mesmo na dor
tornar-se educador
para educar
não precisa escola
pode ser outro lugar

Educar, não é
o conhecimento transmitir
mas sim, fazer ruir
cair por terra
a visão de mundo
que te governa.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

verão

verão
ou
    ton
          o
            ano
bis
sexto
        sábado
prima
        vera
              saiu
                    cedo
nunca
mais
voltou

domingo, fevereiro 09, 2014

100pre

realidade Kôlha
Q não vê a adolescência
mas Hlera da Qbrada
100pre em luta
contra a DKdência
na periferida!

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Forma

o leão em sua pose
                            de rei da selva
congelado
               ali na pedra

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Periferia II

A periferia não dorme
porque o imbecil poder
oprime, persegue até matar.
Aqui não tem dublê
não se pode vacilar.
Se vacilar é o fim
o tiro, não é de festim.

18/01/14

domingo, fevereiro 02, 2014

Infância III

imaginação é a substância:
(fogueira no terreiro)
o contador de causo
ilumina minha infância

sexta-feira, janeiro 31, 2014

poemento

se poesia é momento
e a memória seletiva
o que lembro: selemento
                                      poetiva
                                                 poemento

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Música II

Quando me toca, fico por horas
a ouvir a mesma música
para que atravesse minha pele
                                             sinta meu gosto
enquanto bebo sua melodia
                                             e torne a encontrar
sentido na repetição do dia a dia.

Negra Pietá

acontece todos os dias
nas distantes periferias

fruto, não do escultor e sua grandeza
mas sim, como resultado da pobreza

filhos magros nos braços
apoiados em seus regaços

mães negras, em profundo choro
gritam suas dores, em coro

não querem mais mortes seletivas
por justiça, lutam, são combativas

não querem mais
serem negras pietás

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Teatro

do bode que berra
a caminho da morte
(sacrifício)
nasce o ofício
ritual que renasce
relação em ato
teatro

domingo, janeiro 26, 2014

Fria esperança

Viadutos saltam sobre os barracos
Carros mais bem cuidados que crianças
Em um tempo de fria esperança...
Vida que caminha aos solavancos.

A esperança que venceu o medo
Tornou-se, ela própria, atropelo
Fruto de acordos e conchavo
União de classes, falso enredo

De um tempo difícil, obscuro,
Em que a vida importa pouco
O que vale mais é o grande lucro.

Tempo de ajuda aos grandes bancos
Queimar índios, expulsar  mendigos
Derrubar barracos dos barrancos.

04/11/13

sábado, janeiro 25, 2014

Jornadas

Jornadas de junho
lá no século dezenove
e no vinte e um
primaveras dos povos...
a árabe, irmã comum.
Todas, disputa renhida,
lógica de uma luta
ainda não vencida.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

quinta-feira, janeiro 23, 2014

quarta-feira, janeiro 22, 2014

Popular 5

Cadê a favela que tava aqui?
O governo removeu.
E a outra que estava ali?
A especulação queimou.

No jogo de gato e rato
o rato venceu
O rico a(s)cendeu
e o pobre desceu.

domingo, janeiro 12, 2014

Natalina III

O natal é tão deprimente
corrida às lojas, comprar, comprar
solidariedade fingida
que logo mais vai acabar.

Contra tudo isso
para não se pensar
o negócio é beber
beber até se acabar.

Dizem também
que tempos atrás
nasceu um homem
inimigo de satanás

mas se ele voltar
será perseguido
pois o que importa
é a festa, o alarido.

Fica, por todos sabido
o que importa é gastar
beber até cair. No ano,
continuar a trabalhar

ser, todo dia, explorado
esquecer solidariedade
continuar sem mudanças
viver a arbitrariedade.

23/12/13

O dia

Segunda-feira, Zé levanta no horário habitual, como morava perto do trabalho e o patrão tinha confiança nele, era sempre o primeiro a chegar. Mas naquele dia ficou preocupado, pois o ônibus não passou, estranhamente, não havia ninguém nos pontos, como os demais dias.
Então, seguiu a pé até o trabalho. Se apressasse o passo talvez chegaria na hora. Foi o que fez. De fato, foi o primeiro a chegar. Mas deu o horário e nenhum de seus colegas apareceu. Zé pensou que pudesse ser por conta do transporte, se não tinha para ele, provavelmente não tinha para os demais. Mas e quem tinha condução própria? Por que não chegou no horário? Congestionamento? "O patrão vai ficar fulo, ainda bem que ele só chega bem tarde, apenas para conferir os trabalhos".
Duas horas depois, ninguém chegara, nem mesmo o patrão. "Que estranho"! Ele continuou a trabalhar para deixar tudo pronto para quando ele chegasse, passaria um relatório dos encaminhamentos. Resolveu ligar para os colegas de trabalho, mas ninguém atendeu ao celular.
Hora do almoço e ninguém ainda. Resolveu sair para o almoço. Afinal estava com fome e quem sabe conversaria com as pessoas e se informaria, pois justamente naquele dia, a internet não estava funcionando direito.
Encontrou algumas pessoas no trajeto até o restaurante. Ninguém conhecido, mas todos lhe cumprimentavam com um sorriso nos lábios. Chegou ao pequeno restaurante onde sempre almoçava. Era simples, porém barato e quando não tinha dinheiro, fazia fiado. O dono lhe sorriu feliz, perguntou se queria o de sempre. Respondeu que sim. No entanto, Zé estranhou, pois não havia correria, pressa. Tudo bem, o restaurante tinha menos pessoas. Realmente aquele era um dia diferente.
Quando a comida chegou perguntou a seu Manoel o que estava acontecendo: "muitas coisas sem funcionar e não havia correria ou caos nas ruas, certa tranquilidade pairava no ar". Mas ninguém foi até o trabalho. “Sabe de alguma coisa?”
 Manuel, o Mané, como era conhecido, respondeu que quem era empregado de alguém resolveu não ir trabalhar naquele dia.
- Ninguém?
- Ninguém. Em nenhuma empresa. Se você foi, deve ter sido o único. Mané saiu rindo
Almoçou calado. Pagou e voltou ao escritório. Trabalhou até o horário de sempre. Ainda tentou falar com o patrão, mas não conseguiu. As comunicações também não funcionaram bem. Depois do trabalho, voltou caminhando até sua casa. As pessoas que encontrou ao cruzar na rua, todas com ar de alegria, uma felicidade inundava o ar. Ao chegar a sua casa, tomou um banho, comeu algo e dormiu. No dia seguinte não acordou no horário de sempre. Resolveu que também não iria trabalhar naquele dia.


03/08/2013

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Cambiar siempre

Toda hora é hora
todo dia, esperança
transformar a vida
criar a mudança.

Todo santo dia
ser sempre fecundo
não se contentar
transformar o mundo!

Sempre se refundar
sorriso na frente
com profundo pensar
e ação permanente

para modificar
o mundo imundo
inundo meu cantar
de amor profundo!

29/12/13