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sexta-feira, dezembro 02, 2022

mercadoria

não é mais possível beber água

sem pensar em seu preço

assim também é uma árvore:

vemos os produtos que dela pode brotar

não se diz um punhado de terra

a medimos em hectares, para o gado pastar

por isso aproveito a brisa em meu rosto

componho desenhos com nuvens

que emolduro com o pôr do sol

nas noites de lua, aprecio em demasia

antes que o maldito capitalismo

transforme tudo em mercadoria

sexta-feira, novembro 18, 2022

teu gosto

gosto de me enroscar em suas pernas
gosto de roçar na tua pele
me enrolar em teus cabelos

tua cor, teu cheiro, teu sabor
ao teu lado tudo é alegria
sou viciado no seu amor

liga o som e gruda em mim
boca com boca, gostoso demais
cada dia que passa te quero mais
me diz que isso não terá fim

sábado, novembro 12, 2022

Anjo da morte

O anjo ceifador está sempre a espreita e atento, como um bom cumpridor de seus deveres, atuando em parceria, para que a morte nunca falhe. O caso que ora discorro, eu deveria cumprir o papel de parceiro da senhora da foice.

Estava eu a descomer, como faz todo ser que come, quando uma barata entrou no recinto. Arrumei-me no trono em que estava sentado e peguei o chinelo. Com arma em punho, observei a direção, o trajeto percorrido pelo inseto onívoro. O bicho correu serelepe à minha direção, pode-se dizer, mesmo, que estava feliz, numa clara intenção do destino, que a levaria à morte.

Direto em minha e direção. O chinelo voou: pá! Errei, pois a vida muitas vezes tenta contrariar o destino, buscando alternativas pelas durezas apresentadas. Ela correu como um atacante que acabara de driblar o zagueiro e se depara com o gol à sua frente. Saiu pela porta, enquanto eu ficava preso a meu trono. 

Mas o anjo da morte é atento, é moleque travesso. No exato momento da escapada do inseto pela porta, entrou no banheiro a minha companheira, que nem percebeu o assassinato que havia cometido, ao pisar distraída na barata. Estava lá o corpo inerte e estatelado no chão, provando que todo ser está predestinado à morte.

quinta-feira, novembro 10, 2022

despejo

eu, livro aberto
e você não me lê
gato a espreguiçar
sem você notar

eu, às suas ordens
você nas nuvens
eu, por ti a me derreter
você não quer perceber

estou em tuas mãos
sorrio, oro, rastejo
você, provocação

eu, um futuro planejo
não aprendo a lição
você me dá o despejo
de seu duro coração


quarta-feira, novembro 09, 2022

segunda-feira, novembro 07, 2022

o sol...

o sol namora a árvore

causa ciúmes ao vento

que sopra seus impropérios


um pássaro leva a notícia a outros ninhos

sexta-feira, novembro 04, 2022

sexta-feira, outubro 28, 2022

todo dia

todo sangue é vermelho
negro, branco e indígena
nas veias abertas
quem derrama mais?

cai pena, cai cocar
senzala recriada
o urucum na pele
e vermelho na terra
dor e choro a regar

o ritmo que marca
o canto à Zumbi
pedido à Tupã
união de forças
a luta não é vã

todo sangue é vermelho
negro, branco e indígena
nas veias abertas
quem derrama mais?


no próximo domingo
também será vermelho
porém, de alegria
para barrar o medo
e estancar a sangria

quarta-feira, outubro 19, 2022

memórias

o moleque segue com uma manga

mastiga o fruto

em seu verde quase maduro

vai ladeado por dois colegas

indo ao futebol?

a mordida e a conversa

serão memórias em tempo futuro 

terça-feira, outubro 18, 2022

meu poema

meu poema

tão monotemático

insiste em se repetir

ser o mesmo em seu grunir

frente à vida

que muda constantemente

para permanecer como estar 

domingo, outubro 16, 2022

contexto...

contexto e poesia

                              poesia é com texto

poesia é contexto 

terça-feira, outubro 11, 2022

revolta

de tanto ver pessoas pelas calçadas

certo dia houve revolta em são paulo

os prédios vazios se levantaram

foram em direção ao mar

todos os demais acompanharam

e naquele ar bolorento

ficaram todos ao relento 

segunda-feira, outubro 10, 2022

mirando o passado

antes do velho

antes do porto

havia um paredão

um paredão de floresta

cortado pelo rio caiary

protegido pelos mura

tudo era integração

mas o rei não gostou

- "cortem suas cabeças"

muita cabeça rolou

e continua a rolar

pois querem tudo 

(e)int(r)egrar


o progresso é deprimente

hoje o paredão é de concreto

corta o rio de leste a oeste

e gera energia pro sudeste

segunda-feira, setembro 26, 2022

granada

é preciso puxar o pino

apesar do medo

retirar a trava

explodir o que nos trava

se partir em mil

possibilidades

seja em qualquer idade

é preciso puxar o pino

não amanhã, depois

quem sabe outro dia

mas hoje

cada estilhaço

nos revelando

nos pondo a nu

para sermos o outro

que há em nós

é preciso puxar o pino 

domingo, setembro 25, 2022

saudade

a saudade aumenta com a idade

de tudo que se viveu

e do que se queria ter vivido


as memórias vão embolando

firmando umas, outras esmaecendo

mas a saudade a todas reacendendo


desejo de futuro não realizado

é saudade que amarga

no peito martirizado


saudade boa é aquela saciada

a cada encontro marcado

com o elemento desejado


que volta a ser chama 

de todo feliz encontro

com quem se ama

as cores e os dias

como quem não sabe

do trabalho por trás

e por dentro das coisas

desejo que o cinza domingo se prolongue

nesse teu permitido lazer

ali, diante da tv


o corpo, mal descansado

reinicia em frenética repetição

na verde segunda...

o desejo do novo se esconde

nos gestos iguais

de frios bons dias


a laranja terça

já pede o fim da jornada

que ainda tardará

tudo é sabor de pão amanhecido

ainda mais para os envelhecidos


o roxo da quarta

é o meio de tristezas-esperanças

para uns, o começo do fim

uns para e veem o fim do começo

travessia estreita, enfim


quinta é rósea

com jardim pouco florido

mas o cultivo é a esperança do fruto

e toda estreita ponte

sempre leva ao outro lado


e como quem tem certeza que a mão produz

chega-se a sexta vermelha

sonhando com vida melhor

que virá quando todas e todos souberem

que a mão que escreve poesia

é a mesma que faz o pão

e pode arrancar a alegria


alegria que pode seguir por todos os dias

por ora, apenas no tom esmaecido de todo sábado

que logo pode vir a ser

cinza domingo

ou se transmutar em carnaval infindo

em que todos os dias

podem vir a ser arco-íris

e todas as cores que se queira


27/03/2022

sexta-feira, setembro 23, 2022

alegria

alegria é passageira

o que ontem fui

hoje não sou mais

tudo é devir


minhas emoções

a girar, girar

não consigo esconder

e não tenho onde ir


nada permanece

passageira alegria

parceira da agonia

volta, volta alegria... 

quinta-feira, setembro 22, 2022

levantar vela...

levantar vela

direcionar, fazer avançar

o barco da história

singrar os mares dos acontecimentos

unir homens e mulheres

para que voem

em asas de beija-flores

e façam florescer os jardins

de novas realidades

quarta-feira, setembro 21, 2022

choque

o balanço do mar
algumas barquinhas
e seus portugueses

o nativo a olhar:
meninos, meninas
homens, mulheres...

o choque. sangue a jorrar
indígenas a correr
portugueses a atirar

dominam todo litoral
- ainda sobra o sertão -
implantam canavial

áfrica tem os seus arrancados
vai se formando uma nação
com violência bestial

tempo passa, passa tempo
a máquina a moer gente:
colônia, império, república

a mesma lógica vigente
falta a amazônia integrar
pra tudo ser decadente

mais indígenas a tombar
nas periferias há gente?
novas senzalas a vigorar

derruba a floresta
põe o gado pra pastar
e tudo a se integrar

no ritmo padrão
de 1500 até hoje
eis o tom da nação

terça-feira, setembro 20, 2022

grito

é pepita é pepita

é ouro é cassiterita

baby my baby

babysitter baba

vamos ficar rico querida

é mercúrio escorrendo

entre tuas pernas

é filho abandonado

é draga engolindo o rio

é usina interrompendo

o curso natural

tudo tão desigual

é gente que voou da ponte

(a ponte liga dois pontos?)

tantas vidas por um fio

o fio sempre a arrebentar

é grão é grão

nadando pro exterior

foge do fogo

que a tudo devora

vambora vambora!

segunda-feira, setembro 19, 2022

steel age

esse percival farquhar
tá mais pra lorde farquaad
nunca quis aqui pisar
mas enviou seus ogros de cem braços
cembraços semiolos cembraços semiolos

derruba mata
planta ferro inglês
colhe malária

o sucesso foi tanto
que virou avenida
pro povo
ficou a ferida

domingo, setembro 18, 2022

ciclos

é leite escorrendo
é paraísoeldorado
chama arigó pra mamar
bora produzir borracha
pro mundo
antes que trafiquem para malasia

vem desbravador, chama os pioneiros, os bandeirantes
e o progresso
-- bora matar índio
acende a fogueira
traz as vacas e os bois
é pasto pasta é pasto pasta é pasto pasta
matadesmatadesmatadesmata mata

o agro é pop
o pop não poupa
floresta, indígenas, rios...
matadesmatadesmatadesmata mata

machado motoserra e sangue
pra erguer um estado

sábado, setembro 17, 2022

dizque

dizque o velho do porto

ao avistar a movimentação


pegou sua canoa

e remou em direção


à velha cachoeira

mas antes gritou:


-- vai dar merda!

quinta-feira, setembro 15, 2022

a fria...

a fria corrente

                        de ar

elo entre corte

                        e dor

gilete

no denso mormaço

                         lágrimas a teus pés

terça-feira, setembro 13, 2022

meu coração...

meu coração

                   um navegante

que tateia 

                   no mar da vida

teu amor

                   que meu sossego

roubou


segunda-feira, setembro 12, 2022

a(des)gosto amazônico

começa a semana

inicia também o dia

sons de carros na esquina

se somam aos pios de pássaros

a cidade, a floresta

não escuto a motosserra

embora esteja lá

o nariz acusa a fumaça

quinta-feira, setembro 08, 2022

ouro...

ouro a reluzir

tempo de escuridão:

hienas cercam a carniça

o chorume escorre

podridão e morte

a vida não socorre


riqueza, a quem serve?

quarta-feira, setembro 07, 2022

primavera

na desrazão do tempo

que põe tudo a perder

fruto ainda verde

que começa a apodrecer

é preciso dizer:

o céu é azul

sim, a terra gira

em sua redondeza

é preciso dizer


logo ali, na esquina

por mais que tenha perigo

e tudo possa acontecer

anuncia alegrias vindouras

havemos de amanhecer

terça-feira, setembro 06, 2022

corpo memória

guardava no corpo

atravessado em seu espírito

uma saudade de doer

adquirida no tempo

nisso que chamam viver

segunda-feira, setembro 05, 2022

imagem

no espelho d`água
meu rosto
mergulho para
dentro de mim
com sede de conhecer
o ser que lá habita
nadar entre seus planos
afogar os danos
recuperar o humano

sábado, agosto 20, 2022

tempo

o que é o tempo?

anda, demanda
cronos, kairós
escorre por entre
ente que se perde
no fio do medo

ritmo que para
silêncio que fala
acomoda eu e você
tempo que anda
ainda escorre
por entre eu e você

já, aqui, agora
por ora, demora
avia, ligeiro
corre do medo
você e eu
é tempo

anda, responda
a esta demanda
o que é o tempo?

terça-feira, abril 19, 2022

gotas

o orvalho de teu corpo

salga minha pele

o mormaço derrete

meu juízo

se a vida repele

madeixas se atraem

vem, me descabele

domingo, março 13, 2022

teu cabelo...

teu cabelo laranja
contrasta com o céu
ao fundo, um blues

teus lábios de mel
a camiseta azul
minha cabeça a girar

gestos e acenos cá
e você na esquina
que poder, menina

uma quase história de amor
enquanto você, ali passou
todo seu seu ser, é puro valor

sábado, março 05, 2022

no trem

olha, veja bem
nossa história de amor
nasceu naquele trem

o vagão quase vazio
a paisagem se ia
você e seu lumio

o calor nos acendeu
todo mundo sumiu
ali, só você e eu

paixão no alvorecer
tempestade de verão
que insiste permanecer

corpos que embolam
sem medo, sem vergonha
daqueles que rotulam

menina, tudo é frescor
nessa louca história
de nosso inusitado amor

domingo, janeiro 16, 2022

te vi

te vi, bela vista
na tela da tv
te vê assim, ao longe
tão perto, aperta
esmurece meu peito
meus olhos brilham
minha boca emudece
teu toque, teu ser
meu corpo não esquece

sábado, janeiro 15, 2022

dissolver as mágoas

dissolver as mágoas
abrir mão das certezas
buscar a dúvida
os caminhos da vida
nunca são retos
são ondulados
como todo traço de beleza

quarta-feira, janeiro 12, 2022

terça-feira, janeiro 04, 2022

um nada

um nada

que levo em meu peito

mas dói, como dói

também levo

uma estrada de esperanças

aonde nos levará?

como chegar ao ocaso

do que busco?

ao fim dessa estrada de nada

com minhas botas gastas

e minha vista cansada

diviso no horizonte

o monte derradeiro que se avizinha

segunda-feira, janeiro 03, 2022

muro

caderno do subalterno
onde desvira
tudo que se pretende eterno

reinventa o dia a dia
nesse novo escrever
de pura ousadia

aqui não precisa rima
grita a vida em palavras
e imagem que esgrima

domingo, janeiro 02, 2022

levantar vela

 levantar vela

direcionar

fazer avançar

o barco da história

singrar os mares dos acontecimentos

unir homens e mulheres

para que voem

em asas de beija-flores

para fazerem os jardins

florescerem